Ter uma dívida grande e chegar ao ponto de não ver no próprio orçamento uma saída para quitar os débitos é um grande desafio para reduzir os índices de superendividamento. Mas não é o maior deles.
Endividamento das famílias bate recorde
O projeto de extensão multidisciplinar do Centro Universitário Franciscano (Unifra) que auxilia devedores a saírem dessa situação encontra em quem tem dinheiro a receber a maior resistência a participar da iniciativa. Como os professores e estudantes do projeto atuam como conciliadores e não podem convocar as empresas, a participação deve partir do interesse de cada uma.
Isso faz com que a taxa de sucesso das negociações tenha sido de apenas 27,19% em 2014, quando 114 pessoas foram atendidas e percorreram todas as etapas do projeto durante o ano. O principal motivo apontado pelos coordenadores da iniciativa, os professores Alexandre Reis e Fernanda Jaeger, é a resistência de empresas, tanto grandes quanto pequenas, a negociar:
O caso mais complexo é o dos cartões de crédito. As administradoras têm contratos muito fechados, que dificultam qualquer tentativa de negociar, e, além disso, nunca vêm às reuniões quando são convidadas. Esse é o principal gargalo do programa, porque muitas pessoas chegam aqui com débitos do cartão explica Alexandre Reis, profesor do curso de Economia.
Conforme Reis, empresas da cidade têm a compreensão errada de que o projeto vai apenas defender o consumidor e tentar penalizar o credor. Porém, a negociação deve servir para os dois lados:
Estamos do lado de resolver o problema. O devedor fica livre e a empresa recebe o seu dinheiro. Quem vem aqui buscando apenas reduzir o preço das parcelas, já vê logo que não é esse o nosso objetivo acrescenta.
Múltiplas causas das dívidas
O levantamento que mapeou essa dificuldade também traçou um perfil dos superendividados de Santa Maria aquelas pessoas que perderam sua capacidade de pagar as dívidas e procuraram o projeto.
A conclusão é que as causas para essa situação são variadas, e frequentemente têm a ver com a falta de planejamento e a ocorrência de imprevistos, como doenças na família ou o desemprego. Em 30% dos casos, a redução na renda familiar é apontada como a causa ou uma delas.
Desemprego vem em segundo lugar, com 21,7% das ocorrências. Aumento de gastos e doença na família vêm em seguida, com 19% e 18% das respostas dadas pelos participantes (veja no quadro outras características).
Por isso, fazemos esse trabalho multidisciplinar. Às vezes, as famílias não conseguem se organizar porque carregam questões antigas de dificuldade com o dinheiro. Ou então, se abalam muito com alguma perda ou doença. Por isso, o acompanhamento da psicologia é tão importante durante todo o projeto afirma Fernanda Jaeger, que é professora do curso de Psicologia.